quarta-feira, 22 de agosto de 2012

UM POUCO DA HISTÓRIA DA NOSSA REGIÃO: O BACHAREL DE CANANÉIA


O BACHAREL DE CANANÉIA

Quem visitou a Casa Martim Afonso, já deve ter escutado falar do Bacharel de Cananéia, responsável pela construção do primeiro muro de alvenaria do Brasil. Localizado na Casa,  serve como atração turística na cidade de São Vicente. Conheça um pouco sobre a sua história.


Pouco se sabe sobre a história dos 30 primeiros anos do Brasil, no período que se estende de 1500 com a chegada de Cabral, a 1532 quando o fidalgo Martim Afonso de Sousa veio para cá e iniciou o período de colonização das Américas. Neste período, a Coroa Portuguesa priorizou o comércio com as Índias Orientais. Enquanto isso, aqui o caminho ficou aberto para os primeiros traficantes de Pau-brasil, entre eles franceses e ingleses. Os portugueses, além de traficar a madeira, se preocuparam em mapear a costa brasileira e deixar aqui alguns degredados.
Os degredados eram pessoas que cometeram algum crime, ou de alguma forma, manifestavam-se contra a coroa e eram banidos de Portugal. Inicialmente, estes degredados eram enviados para a África e, depois do descobrimento da América, o Brasil virou a sua nova casa.
Entre eles, há um personagem intrigante, seu nome ao certo ninguém sabe, os documentos antigos o chamam de Bacharel de Cananéia. Para alguns historiadores o seu nome verdadeiro seria Duarte Peres, outros defendem que ele seria na verdade Cosme Fernandes Pessoa, que foi deixado aqui pela expedição de Américo Vespúcio, realizada em 1502. Outros também defendem que o motivo do degredo do Bacharel seria o fato de ele ser um judeu que se recusou a virar cristão. Apoiam-se nesta afirmação usando o nome de “Cananéia” que seria uma alusão a “Canaã”, a terra dos judeus no primeiro testamento.

Bacharel de Cananéia pela visão do Pintor Carlos Fabra

Deixado no local onde hoje é a cidade de Cananéia, exatamente onde a Linha de Tordesilhas cortava os territórios espanhóis e portugueses, o Bacharel começou ai a sua saga, em menos de 30 anos virou o “senhor” da costa sul brasileira, conhecido e temido por todos. Ele fez amizades com os índios, aprendeu a falar a língua deles e se casou com pelo menos seis índias. Alertado pelos índios sobre uma boa terra localizada ao norte, o Bacharel se mudou de Cananéia para a Ilha deGohayó (Ilha de São Vicente) e em uma região de muitos animais, frutas, uma boa área para de fazer um porto, ele concretizou seu mais ambicioso plano. Percebendo a movimentação européia em busca de minas de prata e ouro, o Bacharel se transformou em uma espécie de fornecedor para os marinheiros: um navegador português, Diogo Garcia de Moguer, que passou pelo Brasil, fez um relato em 1527, falando de uma parada em São Vicente, onde eles tomaram refresco, foram abastecidos com carne e pescados, água e lenha, e escravos indígenas, além de comprar um bergantim (pequena embarcação) de um dos genros do Bacharel. Diogo Garcia, em 1530, faz outra descrição do povoado comandado pelo Bacharel e apoiado por outros degredados portugueses e espanhóis, afirmando que “a povoação possuía dez ou doze casas e uma de pedra para protegê-los dos índios em tempos de necessidades”.

Gravura da povoação do Bacharel de Cananéia em São Vicente feita pelo Artista Plástico Gaspar Mariano

Com a chegada de Martim Afonso em 1532, o Bacharel voltou para Cananéia. Enviado pelo rei de Portugal, Martim Afonso ficou no Brasil durante um ano e meio, partindo depois para as Índias Orientais. Após a sua partida, o Bacharel voltou à São Vicente em 1536, destruindo a povoação e matando seus desafetos partidários de Martim e do Rei.  Este último ato selou o seu desaparecimento. Temendo as represálias portuguesas, o Bacharel sumiu de São Vicente e pouco sabe sobre o seu destino final.
A pequena povoação iniciada pelo Bacharel deu origem a Vila de São Vicente. Ele criou uma área de atracação para as embarcações e é tido como o primeiro grande escravagista do Brasil, capaz de vender de uma vez só 800 indígenas para os europeus. O Bacharel recusou o convite do rei português para voltar ao Velho Mundo, preferiu ficar por estas terras e, ao ajudar diversos reinos europeus, chamou a atenção do Império Português para as suas terras no Novo Mundo. Mesmo com toda a sua importância, o seu nome parece ficar marginalizado frente a outros personagens, talvez pela sua personalidade controversa ou por ter sido um homem que foge dos padrões dos heróis da História.


Bibliografia
BUENO, Eduardo. Náufragos, traficantes e degredados:As primeiras expedições ao Brasil. 1º ed. Rio de janeiro: Objetiva, 1998.
KEATING, Vallandro e MARANHÃO, Ricardo. Diário de navegação: Pero Lopes e Martim Afonso de Sousa (1530 – 1532). 1º ed. São Paulo: Terceiro Nome, 2011.
PRADO, J. . F. de Almeida. São Vicente e as Capitanias do sul do Brasil: As origens (1501 – 1531). 1º ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1961.




PROFESSOR MARCOS FREIRE

Um comentário:

  1. isso é muito importante para as pessoas aprenderem sobre esses comentarios

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